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Teologia: diálogo ou monólogo?

Professor Thiago Monteiro

A Teologia como uma ciência que é, tem seus pressupostos. Ela tem desejo(s), finalidade, objetividade e subjetividade. Mas será que existe apenas uma única teologia? É possível dizermos que há somente um único discurso sobre Deus? Ou então que há somente uma interpretação correta sobre determinada análise teológica?

Certa vez, uma pessoa cobrou a um pastor: disse que ele deveria pregar “apenas o evangelho”. Ele respondeu que não seria possível, uma vez que o evangelho é “distorcido” pelo intérprete. E continuou dizendo: “as pessoas creem mesmo que o evangelho e a Bíblia não se envolvem com as outras coisas da vida? Com o cotidiano, fenômenos sociais, com a política, entre outras coisas?!”.

Essa observação sobre a pauta “pregue só o evangelho” me chamou a atenção, uma vez que essa mesma lógica pode ser aplicada à Teologia: “pregue só uma teologia, ou a única teologia!”. Seria isso possível?

Analisando o chão da vida, percebo que alguns acreditam numa Teologia universal (e com aspirações universalizantes). Acreditam que a Teologia se aplica do mesmo jeito ao rico/pobre, mulher/homem, homem antigo/medieval/moderno/contemporâneo, livre/escravo, ocidental/oriental, homem antigo-medievo-moderno-contemporâneo etc. Acho isso curioso. Essa perspectiva parmenidiana e platônica de entender as coisas de forma monopolizadora (e aqui, manifesto minha preferência ao mobilismo de Heráclito). Sinceramente, acredito que Deus é imutável, mas não imóvel ou inamovível. Deus é dinâmico!

Na minha labuta teológica, vejo muito discurso monolítico, e com ares monopolizantes. Por exemplo, toda vez que alguém usa a expressão: “a Bíblia diz”, eu logo penso que o que ela realmente está dizendo é: “essa é a leitura que eu faço sobre o que a Bíblia diz”, ou “isso é o que eu acredito que a Bíblia diz”, ou ainda que, “essa é a interpretação que me faz mais sentido”.

Concordo com o supracitado. Interpretar é “distorcer”. Traduzir é trair. Como dizem: “todo ponto de vista é a vista de um ponto”. Uma coisa é buscar o real sentido do texto, outra é afirmar que a minha conclusão é o real sentido do texto. A Bíblia é polissêmica! Afirmar que aquilo que Paulo, ou Isaías, ou o próprio Jesus Cristo realmente quis dizer não é nada dialogal, é monolítico e com ares monopolizantes.

E a tal ortodoxia? O que estou dizendo no texto é que não existe ortodoxia? Sim e não. Sim, porque há crenças que nos identificam e isso acaba desaguando naquilo que entendemos como ortodoxo, e essa régua, gera, inevitavelmente, o outro lado da moeda, aquilo que não é ortodoxo, ou seja, o heterodoxo.

Não vejo problema algum em termos nossas interpretações de estimação. Aquilo que mais faz sentido para um determinado grupo. Nada mais dinâmico do que isso. Porém, a resposta a essa pergunta também merece um não, pois quem é que tem o poder de dizer o que é ou não ortodoxo? Qual intérprete? Paulo ou Tiago? Agostinho, bispo de Hipona, ou Aquino, acadêmico escolástico-italiano? Martinho Lutero em Wittenberg ou João Calvino em Genebra? O Papa para a cristandade do Ocidente ou o Patriarca para a cristandade no Oriente? Ou seria você mesmo?

Logo, não acredito que a Teologia tem o desejo de fechar muitos dos discursos que ela inicia. Pelo contrário, no campo científico das ideias, há espaço para sermos construtivos, há espaço para o debate, para a argumentação bíblico-teológica. Se você vai se “converter” à minha retórica, a minha “ortodoxia” é problema de cada um. A teologia deve se preocupar com a possibilidade do debate, do outro.

Como eu disse, é óbvio que há questões fundantes. Há crenças que nos identificam. Se alguém nega a dupla natureza de Jesus Cristo, é difícil leva-lo em consideração, mas ainda assim, tenho que saber que, como teólogo, é só mais uma perspectiva diferente da minha, que merece minha atenção, que merece ser analisada de forma científica (teológica). Devo ouvir, analisar, refutar e continuar firme na minha fé. Se estas diferenças de discurso que causam muito desconforto, parabéns! Você está no caminho certo! Continue ouvindo e sendo ouvido. Esse desconforto talvez não cessará, mas o seu interesse lacrador de calar o outro e ser o dono da verdade, esse espírito sim, deve cessar!

É óbvio que, como batista, estabeleci minha régua (ortodoxia) de que o batismo deve ser por imersão. Que o sacramento da ceia deve ser celebrado em memória de Jesus, o Cristo de Deus. Que os dons espirituais abundantes no 1º século não cessaram. Que a minha comunidade local é a melhor para o novo convertido frequentar, e que o culto que eu sirvo, é o melhor do mundo. Mas isso não significa que eu tenha o monopólio do discurso de Deus. Que somente o batismo “x” ou “y” seja o correto, ou que a liturgia deve ter ou não bateria, que a vestimenta correta seja a saia ou a gravata, ou ainda, que só é um escolhido quem domina a glossolalia.

Para encerrar, afirmo: “Tudo que está na Bíblia é verdade, mas nem tudo que é verdade está na Bíblia”. A Bíblia é o livro da Revelação de Deus, em natureza, identidade e caráter. As tentativas de fazer dela um livro de Biologia ou Paleontologia ou qualquer outro ramo da razão científica é tentar torná-la subserviente da razão, ao invés de discerni-la por fé (racional).

Enfim… Que Deus te abençoe na peregrinação do chão da vida e na construção teológica.

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